Shampoo: com ou sem sal

Com certeza, você já reparou nessa informação estampada nos rótulos dos produtos. Afinal, quais são as diferenças entre as duas versões e como elas repercutem na beleza e na saúde dos seus cabelos?

De tempos em tempos, surge uma tendência no mercado de cosméticos para cabelos. Se antes a praticidade do shampoo 2 em 1 e do gel para manter os penteados causava frisson, hoje em dia estão no auge do sucesso os produtos ditos não agressivos. Aqueles que têm o compromisso de proteger as madeixas de intempéries como poluição, sol, ar seco e cigarro.  “Sem dúvida, o shampoo sem sal conquista cada vez mais consumidores”, nota Alessandra Rebouças, coordenadora de desenvolvimento de produtos da Unilever. “Hoje, o fato de um shampoo ser sem sal é considerado pelas pessoas um grande diferencial”, corrobora Maria Silva, química da Kush Laboratories do Brasil.

Mas, antes de mergulhar de cabeça e madeixas na nova onda, convém primeiro desfazer uma eventual confusão: o sal da fórmula do shampoo não é o mesmo usado no preparo de alimentos. Pode-se dizer que eles são parentes. “Ambos recebem o mesmo nome, cloreto de sódio. Porém o sal usado nos cosméticos para cabelos não contém iodo, o que o torna mais puro”, explica o tricologista, profissional que estuda o couro cabeludo, Valcinir Bedin, diretor do Instituto de Pesquisa e Tratamento do Cabelo e da Pele, em São Paulo.

Nas formulações da indústria de cosméticos, o cloreto de sódio é usado para dar viscosidade, agindo como um espessante. “Ele confere a consistência necessária para que o produto não escorra quando colocado nas mãos”, explica a dermatologista Denise Steiner, de São Paulo. Então, seria só isso o que as versões sem sal teriam de diferente pra valer? As respostas dividem os especialistas.

SHAMPOO SEM SAL 
Ele protege na medida certa e por isso pode ser usado em todos os tipos de cabelo.

SHAMPOO COM SAL 
Uma pitada de cloreto de sódio faz diferença na viscosidade do produto.

Para Luciano Barsanti, diretor médico do Instituto do Cabelo, em São Paulo, são muitas as vantagens de um produto sem esse componente. “A versão com sal desidrata os fios, deixando- os secos e sem brilho e maciez”, defende. Isso porque ele depositaria, na superfície do couro cabeludo, microcristais do mineral, responsáveis por potencializar a ação negativa dos raios ultravioleta. Esses microcristais funcionariam como uma espécie de lente de aumento dos raios, agravando o processo de ressecamento.

Para completar o estrago, o cloreto de sódio é acusado de remover em demasia a gordura natural dos cabelos, uma espécie de barreira protetora produzida pelas glândulas sebáceas da pele. Em excesso, essa gordura deixaria os fios oleosos e sem brilho. Sua deficiência, porém, provocaria secura e desidratação. E é exatamente aí que residiria a vantagem do shampoo sem sal: retirar a oleosidade das madeixas de forma equilibrada, deixando-as protegidas na medida certa.

Por esse motivo, o shampoo sem sal poderia ser usado para tratar todos os tipos de cabelo, em especial os ondulados, que se ressecam com maior facilidade. “Por ter a superfície reta, o cabelo liso absorve água em toda a sua extensão. Os cacheados, por sua vez, retêm o líquido nas curvas, o que impede a hidratação total dos fios”, explica Barsanti.

Mas há quem diga que a nomenclatura “sem sal” não passa de uma estratégia de marketing. Os defensores desse argumento observam que os pequenos percentuais de cloreto de sódio presentes nas formulações — que variam de 0,2 a 0,6% — não interferem tanto na lavagem. “A ideia de que o shampoo com sal resseca o cabelo está relacionada aos efeitos da água do mar, também composta de cloreto de sódio. Mas o que muitos não levam em conta é que a água do mar é muito mais salgada”, compara Alessandra Rebouças. O professor do curso de visagismo e terapia capilar da Universidade Anhembi Morumbi, Celso Martins Júnior, concorda: “O shampoo sem sal não traz benefícios diferentes daqueles que podem ser obtidos com bons shampoos com sal. É ilusão acreditar nisso”.

A verdade é que são muitos os fatores responsáveis por danificar os cabelos. Além do calor, seu principal agressor, temos a baixa umidade do ar e os procedimentos químicos, como alisamentos e colorações, que, quando não realizados corretamente, lesionam a cutícula, estrutura externa dos fios. “Precisamos avaliar tudo isso antes de sair colocando a culpa nos shampoos”, opina o dermatologista Francisco Le Voci, do Hospital Israelita Albert Einstein, na capital paulista. Agora é com você. Sem sal ou com sal: que tal fazer um teste?

APRENDA A LAVAR OS CABELOS CORRETAMENTE

• Se possível, lave os fios em dias alternados. Caso a poluição e a oleosidade sejam excessivas, vale lavar diariamente.

• Aplique uma pequena dose de shampoo. O ideal é que não ultrapasse o tamanho de uma ou duas moedas.

• Tome banho a uma temperatura em torno de 20 oC. A água muito quente aumenta a oleosidade dos fios.

• O shampoo deve ser usado uma única vez. Repetir a aplicação desidrata as madeixas.

• Massageie os cabelos suavemente com as pontas dos dedos, em movimentos verticais. Movimentos circulares estimulam a produção de gordura pelas glândulas sebáceas.

• Finalize com o condicionador. Aplique o produto com as mãos espalmadas, friccionando o produto entre elas.

• Jamais torça os fios e nem os desembarace embaixo do chuveiro. Isso pode arrancá-los.

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