Como cuidar da saúde mental na infância e adolescência?
Cuidar da saúde mental na infância e adolescência é importante para possibilitar que o indivíduo tenha condições de lidar da melhor forma possível com seu desenvolvimento, suas relações sociais e os desafios que fazem parte de todas as etapas da vida. Sendo assim, cuidar da saúde mental é tão importante quanto da saúde física.
Todas as pessoas podem apresentar problemas ou dificuldades em relação à saúde mental em alguma fase da vida. Durante a infância e adolescência, no entanto, essas questões podem ser mais preocupantes, já que podem interferir no desenvolvimento dos indivíduos.
Ou seja, a atenção plena à saúde integral na infância e adolescência faz muita diferença na vida adulta. No entanto, ainda hoje há muita falta de informação sobre o assunto, o que resulta em posturas negligentes por parte da população a respeito desses cuidados.
Confira a seguir porque é tão relevante cuidar da saúde mental durante a infância e adolescência, e de que maneiras isso pode ser feito.
+ Para saber mais sobre Cuidados com a Saúde Mental, leia também: Como cuidar da saúde mental?
A importância da saúde mental na infância e adolescência
Problemas psicológicos, emocionais ou comportamentais podem assumir diversas formas de acordo com cada indivíduo, a forma como foi criado e o ambiente onde vive.
Mas é unânime que cuidar da saúde mental é algo imprescindível, e por isso é tão importante falar e conscientizar sobre esse assunto.
Pela primeira vez, em 2021, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) incluiu o tema da saúde mental de crianças e jovens no Tratado de Pediatria, principal publicação direcionada a essa categoria de médicos, que cuidam de pessoas até 18 anos em todo o país.
Foi também em 2021 que o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) publicou, em parceria com o instituto estadunidense Gallup, o relatório atualizado sobre a situação mundial da infância, com enfoque nos cuidados em saúde mental.
Essa temática tem se tornado cada vez mais uma prioridade de atuação dos profissionais de saúde. Segundo dados recentes divulgados pelo Unicef, pelo menos uma a cada sete crianças e jovens de 10 a 19 anos convive com algum transtorno mental diagnosticado.
Além disso, cerca de 46 adolescentes morrem por suicídio a cada ano no mundo, configurando essa como uma das cinco principais causas de morte nessa faixa etária.
Os dados são alarmantes e servem para reforçar a importância de falar sobre a saúde mental de crianças e adolescentes.
Na medicina, o profissional responsável pela saúde e condições da mente é o psiquiatra, mas os psicólogos também têm papel importante na realização de diagnósticos, prevenção e tratamento dos transtornos mentais.
O acolhimento e cuidado profissional são essenciais para o controle e recuperação do bem-estar e qualidade de vida, assim como a atenção e apoio dos familiares. Confira a seguir como a família pode cuidar da saúde mental de suas crianças e adolescentes.
Cuidados em casa
Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria e o Hospital Albert Einsten, há algumas ações que ajudam na prevenção ao suicídio e proteção às condições mentais. Colocando-as em prática, é possível diminuir os fatores de risco e aumentar o bem-estar e a qualidade de vida das crianças e adolescentes.
Uma das principais atitudes a serem tomadas em casa diz respeito ao reforço das relações afetivas, sobretudo dos pais e demais familiares que fazem parte do convívio diário.
É importante promover o sentimento de pertencimento familiar, o que é fundamental para a saúde mental infantil e o pleno desenvolvimento do indivíduo.
Isso possibilita que a criança ou adolescente se sinta seguro e possa desenvolver vínculos afetivos saudáveis com seus pais, amigos e outras pessoas com as quais convive.
Para isso, é preciso que os pais invistam em um tempo de qualidade com seus filhos, durante as refeições, brincadeiras, conversas, passeios e demais atividades realizadas em conjunto.
Se a família estiver enfrentando alguma situação delicada, é importante falar com a criança ou adolescente a respeito. Não esconda o que está acontecendo, pois assim há o risco de que os filhos desenvolvam sentimentos negativos, como culpa, solidão e insegurança ao notarem que algo não vai bem.
Os pais devem compartilhar os acontecimentos familiares com seus filhos, assim como situações externas que possam impactar diretamente na sua vida.
Esse diálogo é importante para o desenvolvimento de uma relação de confiança, e deve ser feito com cuidado e utilizando uma linguagem acessível.
A promoção do diálogo deve ser uma via de mão dupla. Assim, ao conversar com seus filhos, você mostra que o inverso também pode acontecer.
Com uma escuta ativa e sem julgamentos, você oferece um terreno seguro para que a criança ou adolescente possa se expressar. Isso não necessariamente acontece sempre por meio da fala, por isso é importante estar atento a outras formas de manifestação.
Para manter o espaço do diálogo sempre aberto, é importante reconhecer os sentimentos dos filhos e estar disposto a ouvir o que eles têm a dizer, valorizando suas emoções sempre que forem compartilhadas.
Isso os ensina a respeito da administração dos sentimentos e emoções, e como lidar com cada uma delas de maneira saudável e eficaz.
Os cuidados com a saúde mental também devem incluir o envolvimento em atividades prazerosas ou que tenham significado para a criança ou jovem.
Hobbies como a leitura, música, cinema e jogos ajudam a evitar a sobrecarga mental, que muitas vezes pode acontecer em função dos estudos e demais compromissos referentes a escola e atividades extracurriculares.
Uma rotina cheia de obrigações pode ser estressante, ainda mais para quem está em fase de desenvolvimento. Para evitar a sobrecarga, os pais devem estar atentos para que sempre haja algum tempo livre no dia da criança, para que ela possa se dedicar às atividades pelas quais têm preferência e para exercitar a socialização.
Para que isso seja viável, é importante estabelecer uma rotina para as atividades, com horários para garantir refeições saudáveis e horas de sono adequadas.
Além disso, também é preciso incentivar a prática regular de exercícios físicos, e realizar consultas de rotina ao médico para acompanhar os estágios de desenvolvimento.
Com o acolhimento e apoio da família, as crianças e os adolescentes certamente terão melhores condições para enfrentar possíveis adversidades em relação à saúde mental.
Esse cuidado deve ser mantido também na escola, levando em consideração a importância que esse espaço têm na vida deles. A seguir, saiba como professores e demais profissionais da escola podem contribuir com os cuidados em saúde mental.
Cuidar da saúde mental na escola
O espaço escolar é um local indispensável para prestar apoio à saúde mental de crianças e adolescentes.
Em entrevista ao portal da Fundação Oswaldo Cruz, Gabriela Mora, do Unicef, fala da escola como um local privilegiado para a observação do dia a dia dos indivíduos nessa faixa etária.
Por isso, defende que seu potencial seja melhor aproveitado em prol da saúde mental desse público. Muitas vezes, é o próprio professor ou outro profissional da escola que primeiro nota quando algo afeta o bem-estar dos estudantes.
Para que esse potencial seja aproveitado, é preciso que os professores tenham recursos para trabalhar o tema e promover espaços de escuta e conversa.
Apesar de atualmente muitos jovens terem acesso livre às informações por meio da internet, é preciso intermediar essa relação e oferecer materiais de fontes confiáveis para tratar o assunto.
Além disso, é também na escola que as crianças e os adolescentes podem encontrar pessoas de referência, como adultos que possam ajudar a entender determinadas demandas e acessar serviços nessa área quando for necessário.
Outras intervenções que podem ser feitas na escola em prol da conscientização da saúde mental dos estudantes podem envolver um ensino efetivo sobre o assunto, com o incentivo a habilidades para enfrentar determinadas dificuldades e limitações.
Também é possível treinar os funcionários para detecção e manejo básico do risco de suicídio, e implementar programas de prevenção para adolescentes vulneráveis a condições de saúde mental.
Para crianças e adolescentes, a escola é um lugar que proporciona a construção de outras formas de sociabilidade para além dos espaços familiares.
É preciso explorar esse recurso e oferecer meios para que o trabalho em saúde mental seja viabilizado, oferecendo uma maior cobertura de cuidados a esse público.
Seja onde for, os cuidados com a saúde mental devem incluir formas de identificação quando algo não vai bem. Confira a seguir alguns sinais para ficar de olho.
Quando procurar ajuda para cuidar da saúde mental?
É preciso observar o comportamento e o dia a dia das crianças e jovens e ser capaz de identificar quando seu bem-estar está comprometido de alguma forma.
É comum que muitos indivíduos dessa faixa etária tenham dificuldades em expressar o que estão sentindo, ou tenham alguma dificuldade para entender o que está acontecendo.
Por isso, pais, familiares próximos, professores e profissionais da escola devem estar atentos a alguns sinais de alerta, que indicam que algo pode estar errado com a saúde mental do seu filho ou aluno.
Alguns sinais que podem indicar transtornos emocionais nas crianças e adolescentes são:
- Queda no desempenho escolar;
- Irritabilidade e/ou agressividade;
- Alterações nos padrões de sono e apetite;
- Tristeza;
- Timidez exagerada;
- Nervosismo sem causa aparente;
- Apatia;
- Pesadelos frequentes;
- Isolamento e vontade de ficar sozinho(a) com mais frequência;
- Preocupações excessivas a respeito do peso ou corpo;
- Falta de vontade de ir à escola ou de realizar atividades que antes eram prazerosas;
- Qualquer indício de envolvimento em automutilação, como cortes ou queimaduras.
Quando esses sintomas forem identificados, o mais indicado é procurar ajuda profissional, preferencialmente por meio de atendimento psicológico.
A função desse acompanhamento é ajudar o indivíduo a compreender o que se passa com ele, e também orientar os pais sobre a melhor forma de lidar com a questão em casa. Sendo assim, não hesite em buscar ajuda!
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