O remédio Annita e sua relação contra o novo coronavírus
Com o crescimento exponencial do número de casos do Covid19, nome popular dado ao SARS-CoV-2, que é o novo coronavírus que surgiu no final de 2019 e início de 2020, tem se estabelecido uma corrida para encontrar um medicamento capaz de contê-lo, ou ao menos auxiliar no tratamento dos pacientes.
Muito se tem falado sobre a Cloroquina, remédio que é usado em doenças autoimunes como malária e lúpus, apesar de resultados conclusivos dos estudos sobre a medicação ainda não terem sido alcançados.
Mas, no dia 15 de abril, um novo remédio se tornou relevante entre os debates, graças ao Ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, que disse ter conhecimento sobre uma medicação capaz de ser a “cura” para o Covid19, mesmo sem qualquer embasamento científico ou comprovação feita pelos profissionais de saúde até agora.
Esse remédio é comercialmente chamado de Annita, podendo também ser nomeada como Nitazoxanida ou Ivermectina. Mas afinal, para que serve o Annita e o que ele faz?
O que é Annita?
Annita é um medicamento que tem em sua composição a nitazoxanida e é indicada para o tratamento de infecções gastroenterites virais, que podem ser causadas por rotavírus e norovírus e helmintíases provocadas por uma série de vermes diferentes. Ela age contra uma série de doenças que causam diarreia e outros problemas intestinais.
Para isso ela age contra os protozoários que são criados pela doença, através da inibição de uma enzima indispensável para que esse parasita sobreviva. Essa mesma ação será feita contra os vermes que podem causar determinadas doenças com consequências semelhantes.
Através da inibição dessas enzimas o vírus se torna incapaz de continuar a se multiplicar, fazendo com que seu corpo consiga o combater e eliminar até que desapareça completamente.
O tratamento pode ser feito através de comprimidos ou uso oral, sendo as doses decididas de acordo com as características do paciente e através de consulta com o médico.
Essa é uma medicação facilmente encontrada em farmácias, desde que seja apresentada a receita médica, tendo um preço que pode variar entre R$20 e R$50 reais, atualmente.
Por que a Annita entrou em pauta?
No dia 15 de abril o Ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, disse ter conhecimento de um medicamento capaz de ser a cura contra o novo coronavírus, o Covid19.
Levando em consideração a repercussão obtida quando integrantes do governo disseram o mesmo sobre a Cloroquina, fazendo com que se iniciasse uma corrida às farmácias que causaram a falta do medicamento a quem de fato precisava dele, o ministro disse que não iria dizer qual o nome do medicamento, para que isso não se repetisse.
Entretanto, tanto durante o seu discurso, como durante o dado pelo Ministro da Saúde, Henrique Mandetta, as falas ditas sobre o suposto medicamento deixaram claro que se tratava da Annita, ou Nitazoxanida.
Esse remédio, que deveria ser um mistério, também havia recebido da Conep (sigla de Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) no dia anterior (14) permissão para ser estudada pela rede de hospitais, chamada Hospital Care, para realizar estudos com pacientes do novo coronavírus e descobrir quais reações terão ao remédio.
O pedido foi feito pelo médico Florentino Cardoso, que é o diretor executivo da Hospital Care. Essa rede de hospitais pertence a atual Crescera, que antigamente se chamava Bozano, gestora de private equity que tinha até 2018 o Ministro da Economia, Paulo Guedes, como um dos sócios.
Como será feito o estudo?
O estudo que foi pedido pelo médico Florentino Cardoso, e aprovado pela Conep, tem previsão de ser feito em um hospital de Campinas, no estado de São Paulo, o Hospital Vera Cruz, tendo como patrocínio o laboratório Farmoquímica do Rio de Janeiro, que é quem fabrica o Nitazoxanida, também chamado de Annita.
Para esse estudo serão usados 50 pacientes que não apresentem sintomas críticos do Covid19, que irão receber a medição durante sete dias e então ficar mais 14 dias sobre observação. Totalizando 21 dias ao todo de participação no estudo.
Para 25 dos pacientes vão ser administradas doses de Nitazoxanida 600mg, enquanto os outros 25 irão receber doses de placebo, sendo que os próprios pacientes não saberão qual dos dois estão recebendo. A previsão de término desse estudo é setembro de 2020.
Já durante o anúncio feito pelo Ministro da Ciência e Tecnologia, que aconteceu no dia 15, ele informou que a pasta que ele lidera irá supervisionar um teste feito com 600 pacientes. Ele será realizado pelo Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais em Campinas, no estado de São paulo.
A mudança para a compra do remédio
Depois do anúncio feito por Marcos Pontes e da conclusão de médicos, especialistas, comunicadores e do próprio público de que ele falava de fato do Nitazoxanida já se iniciou uma ida às farmácias de parte da população para comprar o remédio.
Para impedir que aconteça o mesmo que com a Cloroquina, onde o remédio acabou se esgotando rápido e deixando pacientes que possuem as doenças das quais ele trata desamparados e sem a medicação que é extremamente necessária para eles, a Anvisa publicou uma resolução que o torna um remédio controlado.
A resolução é a RDC 372/2020, que coloca a Annita na lista C1 de medicações controladas Anexo I da portaria 344/1998. Assim, só poderá comprar nas farmácias o medicamento quem tiver receita médica dada por um médico.
O Annita é mesmo a cura para o Covid19?
A Nitazoxanida ganhou atenção por parte do Ministério da Ciência e Tecnologia ao que testes in vitro realizados no laboratório do CNPEM (sigla de Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais) deram um resultado favorável de 94% da eficácia do Annita contra as células infectadas pelo Covid19.
Entretanto, o Ministro da Saúde, Henrique Mandetta, frisou que apesar dos resultados dos testes feito in vitro eles não podem ser considerados conclusivos.
Isso porque as reações causadas em células podem se modificar radicalmente quando feitas diretamente em pessoas, tendo reações diversas. Algo que ele salienta acontecer com muitos dos medicamentos criados e testados.
A nitazoxanida é um anti-helmíntico antiparasitário, capaz de ser benéfico contra uma ampla variedade de vermes e protozoários, mas aprovada pela Anvisa apenas para doenças que causam infecções gastroenterites virais.
Qualquer outro uso dado para esse remédio ainda não possui comprovação científica e deve ser testado de forma segura em humanos e feitos estudos que comprovem suas reações em um grande número de pacientes.